Tudo
começou em novembro de 1995, em Juquehy, praia do litoral norte de São Paulo.
Após
mais um delicioso feriado prolongado de muito sol e badalação, estávamos quase
saindo para pegar a estrada de volta à Santo André, quando o telefone tocou e
pedi para minha amiga atender:
- Sú, é a sua vizinha!
Fui
atender e nesse andar do quarto até a sala senti um frio na barriga e tive o
seguinte pensamento:
–
Será que aconteceu algo com meus pais? Ela nunca ligou aqui!
O
que vou falar agora é o que eu acredito, é a minha verdade!
-
A emoção desse momento foi exatamente a mesma que senti quando estava sentada
na maca do hospital ao saber que meu marido havia morrido. Naquele momento, há 6
anos atrás, tive o mesmo frio na barriga e muito medo do futuro também!
Quero
fazer um adendo para você entender porque cheguei a estas conclusões:
A
morte do meu marido foi tão marcante que lembro de tudo que senti, pensei e
vivi no dia do falecimento dele. Foi traumatizante mesmo!
Após alguns anos do
surgimento da Esclerose Múltipla, conseguimos fazer a ligação dos dois fatos para chegar ao
que realmente desencadeou a doença. Só pude entender tudo isso com a ajuda de profissionais.
O fato de eu não saber lidar com a perda do
meu marido foi o que me levou, como falei na postagem anterior, a uma vida sem perspectivas
e sem sonhos, pois todos os meus sonhos e planos morreram dentro de mim quando
ele se foi. Isto fez de mim uma pessoa muito fragilizada
emocionalmente e totalmente sem rumo. Eu estava com 30 anos e levava uma boa
vida, estava terminando a faculdade e eu parecia estar bem aos olhos dos
outros. Parecia, mas não estava nada bem!
Eu
acredito que o telefonema resgatou a emoção e a paralisia emocional do dia que
fiquei viúva e esse resgate foi o que desencadeou o meu primeiro surto. Foram
segundos, mas o medo de perder os meus pais, foi o sentimento que tomou conta
de mim naquele instante!
Voltando
à história, graças a Deus nada com meus pais, mas um vizinho da rua de trás
havia tirado a própria vida, ele era usuário de drogas e se enforcou! Foi muito
triste receber esta notícia, mas juro que me senti aliviada em saber que todos
em casa estavam bem.
A
vida continuou e todo aquele medo da possibilidade de perder os meus pais, coisa
que só aconteceu na minha cabeça e gerou este redemoinho de sentimentos sem
nenhum fundamento. Esse medo gigante fez um estrago danado em mim, isto é, no
meu cérebro!
Na semana seguinte eu acordei com o braço
esquerdo formigando, igual quando a gente dorme em cima – eu nem liguei e
pensei: daqui a pouco passa – mas não passou!
Eu e minha
mãe fomos no ortopedista – pensávamos que era da coluna, algum pinçamento. Como
o médico achou um desvio na minha coluna, me pediu alguns exames de raio x e ultrassom.
Na semana
seguinte começou a formigar a mão direita e ligamos para o ortopedista, que
logo disse:
Se passou para o outro lado é neurológico!
Essa palavra
assusta qualquer um:
N E U R O L Ó G I C O
N E U R O L Ó G I C O
Fomos
ao neurologista que ele indicou.
Este médico
me fez vários exames estranhos em consultório. Eu estava bem assustada!
Hoje sei que
são exames clínicos para verificar a sensibilidade, a força e motricidade,
principalmente dos membros. Saí de lá com um pedido de Ressonância Magnética do
Cérebro com a suspeita de Esclerose Múltipla.
Eu e minha mãe lemos aquilo já no carro e eu falei: esclerose é doença de velho e rimos disso. Acho até que rimos porque o medo era muito grande, justamente porque estávamos entrando num mundo desconhecido.
Minha mãe disse:
- Calma, seja o que for, vai passar!
Minha
mãe sempre foi e é muito otimista, tanto que eu digo que para eu passar tudo
isso que já passei, Deus tinha mesmo que me dar uma mãe muito porreta!
Ela
é otimista e guerreira demais – ainda bem que herdei essas qualidades dela,
isto é, acredito que aprendi vendo o seu exemplo perante a vida – mas ela ganha
de mim – com certeza!
Estou
falando de uma era pré Google. A internet estava começando no Brasil, não
existiam sites de busca e a única informação que eu tinha era um nome de doença
que eu achava que era de velho escrito em um pedaço de papel. Não fazia ideia
do que a vida me reservava.
E
foi assim que a Esclerose Múltipla apareceu por aqui!
Quero
deixar uma linda música do grande poeta Renato Russo, que passa muitos
ensinamentos pra gente: