Os dias em dezembro sempre passam rapidinho por causa da nossa correria com os preparativos das festas, mas os meus dias em dezembro de 1995 estavam se arrastando e eu também quase me arrastava com eles. Os sintomas do meu primeiro surto de Esclerose Múltipla foram piorando tanto que no dia 23 de dezembro fui internada para fazer uma pulso terapia!
Esta pulso terapia consistia em administrar por 5 dias, corticoide via endovenosa em alta doses diárias (1 grama por dia) para acabar o processo inflamatório e limitar os danos, isto é, os sintomas que aqui no meu caso já eram realmente múltiplos.
- Eu estava sem equilíbrio e para andar precisava ser amparada
- Tinha formigamentos nos pés e pouca sensibilidade, estavam meio dormentes
- As pontas dos dedos das mãos eu não sentia, então tudo caia da mão e os braços também formigavam
- Meu ouvido esquerdo tinha um apito constante e insuportável
- Partes do rosto também formigavam
- Eu não controlava as necessidades fisiológicas e quando dava vontade tinha que correr ...CORRER... como isso foi cómico/trágico. Eu tinha urgência e não incontinência urinária, tanto que nunca precisei usar fraldas nestes 20 anos, agora essas corridinhas, foram cómico/trágicas, realmente.
Entrei no hospital com estes sintomas e minha mãe ficou comigo os 5 dias como acompanhante. Lembre-se que ela estava com o braço engessado. No post anterior (O Diagnóstico e o Prognóstico médico foi de arrepiar) conto isso com mais detalhes.
Quando entramos no hospital, todas as pessoas achavam que minha mãe seria internada em virtude do braço engessado. Até no elevador uma senhora me olhou com uma cara feia, por eu não carregar a mala e sim minha mãe. Aparentemente e parada em pé no elevador, nada se percebia de doença em mim!
Na noite do dia 24 de dezembro, véspera de Natal, meu pai e meu irmão vieram ficar um pouco conosco e meu irmão trouxe um pouco do pavê de sonho de valsa, sobremesa que tradicionalmente ele já faz nessa época de festas. Eu adoro e me deliciei...
Na noite de Natal eu sonhei que vários médicos estavam ao redor da minha cama de hospital e olhavam para slides enquanto conversavam entre si.
De uma forma meio que milagrosa eu acordei no dia de Natal muito bem disposta, talvez até porque já havia tomado duas doses cavalares de medicação, mas minha mãe ficou surpresa quando pedi pra sair da cama. Eu queria sentar na janela pra olhar a rua. Ela me amparou e me sentei em uma cadeira ali na janela e quando abri o vidro, senti a brisa e vi o sol nascendo... Abri minhas mãos esticando os braços, como se segurasse o sol nas mãos e minha mãe disse neste momento eu fiquei toda dourada com os reflexos da luz do sol em mim.
Hoje entendo a magia deste momento!
Eu não quis mais voltar pra cama naquela manhã, deitei num sofá e dei uma cochilada. Lembro de ver meu irmão em pé encostado na parede olhando pra mim, mas ele não estava ali e sim dormindo em casa. Eu sei que eu estava meio dormindo/acordada e isso foi uma coisa muito nova pra mim, ver alguém que não estava no quarto naquele momento.
Nunca tive estas visões, mas naquela manhã, eu tive a mais pura certeza de que aquele doce trouxe uma dose de pó de pirlipimpim e meu irmão foi lá em espírito para verificar se o doce teve algum efeito positivo em mim. Também acredito que no plano espiritual aquela reunião dos médicos ao redor da minha cama aconteceu e foi outro fator que trouxe esse meu amanhecer com tanta disposição!
Eu acredito nessa magia da vida!
Meu conhecimento do espiritismo era pouco naquela época, eu só procurei a doutrina espírita para me confortar na época da morte do meu marido e nunca desenvolvi qualquer mediunidade. Eu tenho dentro de mim a certeza que foi isto que aconteceu naquela manhã de Natal, fui abençoada! Por que rezei? Por que mereci? eu não sei ao certo os porquês, mas sei que desse dia em diante eu só melhorei, melhorei e melhorei.
Foi como se uma porta se abrisse pra mim e meu caminho mudou completamente a partir dessa noite de Natal!
Por mais crítica que fosse a situação comigo hospitalizada e minha mãe com o pulso quebrado em 5 lugares, nós conseguimos colecionar situações hilárias e o bom humor neste quarto de hospital, prevaleceu!
Não pense que não chorei, que não me revoltei! Tanto eu como toda minha família estávamos muito abalados com o surgimento dessa doença.
Não me lembro de nenhum momento triste, da gente baixo astral nestes dias que fiquei no hospital. Deve ser porque não marcaram e sim os momentos inesquecíveis são bons e divertidos, como estes dois, que vou contar agora:
- Quando chegamos no quarto e minha mãe foi me ajudar a subir na cama, a cama andou. As rodinhas não estavam travadas! Minha mãe ficou me segurando com o braço bom e parou a rodinha com o pé!! Foi muito engraçada a situação, mas levamos um baita susto!
- Pedi pra minha mãe buscar um refrigerante gelado pra mim e enquanto isso, fiquei quietinha deitada na cama. Ela chegou e como eu não conseguia sentar sozinha na cama, pedi pra ela me dar uma mão pra eu sentar, só que ela estava com um braço engessado e a latinha na outra. Simplesmente ela disse: - Qual? Caímos na gargalhada!!!
Vou parar por aqui senão vamos ser contratadas pra fazer vídeo cassetadas da nossa vida real!!!
Estou contando estas passagens pra você ver que mesmo passando por poucas e boas nestes 20 anos, nunca perdemos o bom humor!
Tudo fica mais leve onde tem alegria e entendo que tratar a doença com leveza ajuda muito a abrir sua vida para receber coisas boas, que eu chamo de bênçãos! Seja lá de onde vier, mas que sejam boas!
As pessoas colocam um peso gigante na Esclerose Múltipla e deixam a doença tomar conta de suas vidas. Eu não vejo assim! Ficar negativa eu já descobri que piora tudo.
Eu só tenho é que saber lidar com esta patologia, mas minha vida não se resume a isso e nunca deixei ela tomar conta da minha vida.
Eu sempre busco melhorar como pessoa e isto reflete muito minha saúde. Melhoro de dentro pra fora, eu melhoro aqui dentro, a saúde melhora e a vida melhora. Mas com toda certeza em 1995 eu nem sabia como seria todo esse rico percurso que trilhei, com altos e baixos de muito aprendizado e crescimento.
Eu aprendi uma coisa em uma palestra:
Hoje não tenho mais problemas, agora só tenho situações. Com uma simples troca de palavras, hoje tenho situações a resolver, sejam elas boas ou ruins, procuro resolver tudo com a leveza de quem confia e ama a vida!
Faça também essa simples troca de palavras:
- Esqueça de vez os problemas transformando estes em situações e verá a diferença no seu dia a dia!
Faça o teste, não custa nada! Depois me conte o que mudou em sua vida!
Vou deixar aqui uma música que me lembra muito o momento que peguei o sol nas mãos:
Super beijo no coração
#JuntosSomosMaisFortes!
