Ainda estou falando do ano 1995, mais precisamente, o começo
de dezembro de 1995!
Vou te contar tudo que aconteceu no dia em que fomos buscar
aquela minha primeira Ressonância Magnética, porque neste dia fatídico, a
“Bruxa estava solta”.
Eu Fui tomar banho e antes que saísse do chuveiro, minha mãe
foi na área de serviço pegar um pano de chão para eu não escorregar, pois eu já
estava com o equilíbrio comprometido e todo cuidado era pouco.
Nesse percurso, minha mãe escorregou no piso molhado da área
de serviço, caiu e machucou a mão. O tombo dela foi feio e só depois fui saber
dos detalhes, porque ela escondeu bem! Cobriu a mão com um lenço, fez uma
tipoia e quando eu perguntei o que era aquela tipoia, ela respondeu:
- Só escorreguei, cai e bati a mão, mas “acho” que não foi nada!
- Só escorreguei, cai e bati a mão, mas “acho” que não foi nada!
E fomos de taxi buscar a Ressonância Magnética, no Incor em
São Paulo. Nessa época, minha mãe já não dirigia mais e eu nem pensar, pois
minha coordenação motora sumira e meu carro ficou paradinho na garagem de casa.
Pegamos o exame e levamos direto para o Neurologista, em São
Caetano do Sul. Foi quase uma hora de taxi pra ir e mais de uma hora pra
voltar. Eu até perguntei pra minha mãe se a sua mão doía e ela disse que não!!!
Chegamos no neuro e o taxi ficou esperando!!!
Ele viu a Ressonância e disse:
- É o que eu suspeitava:
- ESCLEROSE MÚLTIPLA!
E nós duas:
- O QUE É ISSO?
Ele foi muito frio e já foi falando da gravidade da doença,
que era uma doença degenerativa e que não tinha cura. Que em 5 anos eu estaria
em uma cadeira de rodas e em 10 entrevada em uma cama!
Esse foi o prognóstico dele, vou até repetir em letras
garrafais:
- em 5 anos eu estaria em uma
cadeira de rodas e
- em 10 anos entrevada em uma cama.
Eu na hora respondi:
- Eu não, nunca!
E pensei:
Esse cara é louco!!
Saí da sala chorando, minha mãe veio atrás de mim e o médico
também. Ainda no corredor, ele colocou a mão no meu ombro, me levou de volta ao
consultório dizendo:
- Não fique assim, as nossas células estão sempre morrendo,
não são só as suas!!!
Sentamos novamente, me deram um copo de água e logo ele
retrucou:
- Não adianta você chorar, eu nem vou ter que abrir sua
cabeça, não adianta!
Acho que falou isso porque como Neurocirurgião ele abria
muitas cabeças!
Nunca vi pessoa tão fria e desumana!
Me receitou uma medicação e me deu um cartão da ABEM
(Associação Brasileira de Esclerose Múltipla) e disse:
- Vai lá pra você ir se acostumando com sua nova realidade!
Então, fomos embora pra casa!
Minha mãe pediu pro taxista passar no Pronto Socorro. Ela
quis tirar um Raio x da mão e ainda me falou que era só pra poder ir sossegada
pra casa!
Eu fiquei com o taxista no carro. Ele era amigo da nossa
família e rimos muito, porque eu olhava meu cérebro cheio de manchas na
Ressonância e como eu não entendia nada, logo disse que parecia uma bunda
pintadinha! Eu e esse meu senso de humor negro, as vezes!
Nem vi o tempo passar e de repente apareceu a minha mãe de
braço engessado!
Ela quebrou o pulso em 5 lugares!
Ela quebrou o pulso em 5 lugares!
A mão tinha virado ao contrário e por isso ela escondeu com
o lenço!
Mãe também apronta, sabia?
Fico até hoje pensando na dor que sentiu todas as vezes que
o taxi passou em um buraco... e ela nada me falou, nada reclamou!!!
Dizem que isso é coisa
de mãe!!!
Sou tão grata a minha mãe por tudo que já passou para me
poupar, me ajudar. Ela ainda me ajuda tanto, que até fico sem palavras!
Só digo que meu amor por ela é gigante e a minha gratidão então?
Não tem tamanho!
E lá fomos pra casa, mas pedi pra Bruxa parar de seguir o
taxi, por favor, por hoje chega!!
Depois de vinte anos percebo que o fato de eu negar o
prognóstico desse médico foi fundamental para o que aconteceu comigo de lá até
hoje!
Eu neguei piamente o que esse médico disse!
Eu até acreditei no diagnóstico, mas as previsões dele eu
nunca aceitei pra minha vida.
Sempre acreditei ter força para virar o jogo!
Lembro de ir no carro de volta pra casa muito brava e
dizendo:
- Esse cara tá pensando o que?
- Eu não quero e não vou ficar assim!
E a minha mãe foi o caminho todo dizendo que íamos arrumar
um jeito de reverter isso, procurar outros médicos pra ver o que eles diriam......nosso
pânico foi total. Ele nos assustou demais!
Te deixo aqui uma canção que é lema na minha vida:
Super beijo no coração